Parte de nossa psique não é percebida pelo consciente, por isso se chama sombra. Ela contém tudo que não aceitamos (reprimimos) como parte de nossa personalidade, ou identidade, ou ego. O complexo do ego são todas as ideias e afetos (experiências, memórias, sonhos, aspirações, desejos, traumas, etc.) relacionados ao eu. A sombra reúne tudo aquilo que a pessoa chama de “não eu”. Tudo o que é inconsciente só é percebido quando é projetado. Ao olharmos para algo (ou alguém) e reconhecemos que isso é diferente de nós, estaremos projetando nesse algo ou pessoa a nossa sombra, principalmente se, além de reconhecer a diferença, sentimos repulsa ou um sentimento que nos separe ainda mais dela.
Tudo que vemos como “não-eu” no mundo se torna projeção da nossa sombra. Quando vemos isso, taxamos, rotulamos e julgamos, estamos vendo no outro o que reconhecemos como sendo “não-eu” em nós mesmos. Como não reconhecemos determinada característica em nós, então reprimimos isso, que fica inconsciente. Mas é uma energia viva e não fica esquecida. Ela é jogada no mundo, na outra pessoa, não é internalizado como sendo nós mesmos.
Nela colocamos nossos defeitos, culpas, vergonhas e coisas que são socialmente ou pessoalmente reprovadas ou qualquer coisa que nos é reprimida, como sendo um defeito. Aquilo que foi proibido por culpa ou vergonha.
Mas a sombra fica no nosso pé. Ela pula para fora quando estamos praticando arte: dança, escultura, teatro, pintura, nos movimentos ou mesmo quando servimos uma mesa. Ela não pode ser negada e pode tornar-se nossa amiga, quando não a deixamos no inconsciente. Se ela é negada acaba mostrando que no mundo existem vários inimigos e que no mundo existe um mal (que não pertence a nós). O fanatismo é a projeção da sombra: sempre existe um inimigo: o ateu, os que pensam diferentes, os ativistas de partidos ou times oponentes, etc.
Mas quando reconhecemos que algo fora nos incomoda, trazemos isso para nós e perguntamos: “o que tenho dessa característica que vejo como sendo ruim?”, então crescemos como pessoa e nos integramos e integralizamos, recuperando a energia vital presa dentro de nosso calabouço interno.
